A Síndrome Complexa de Dor Regional (SCDR)
refere-se a uma condição dolorosa crônica de difícil controle, que agrupa
estados patológicos com características clínicas semelhantes.
A manifestação inicial é a dor com duração e
intensidade desproporcionais ao fator desencadeante. Com a evolução do quadro,
associam-se algumas das alterações regionais típicas:
Alterações motoras: fraqueza, fadiga, espasmos
musculares, atrofia muscular, retrações tendíneas, distonias, negligência
motora ou tremores.
Alterações na percepção da dor: hiperalgesia,
hiperpatia ou alodínea.
Alterações da pele: coloração, temperatura,
trofismo, sensibilidade e sudorese.
Alterações do crescimento dos pelos e unhas.
Alterações vasomotoras.
Vários outros termos já foram utilizados na
literatura para descrição do mesmo quadro: Distrofia Simpática Reflexa,
Causalgia, Algodistrofia, Dor mantida pela atividade do Sistema Nervoso
Simpático, Atrofia de Sudeck, Osteoporose Dolorosa Pós-traumática, Edema
Pós-traumático, Edema Traumático Crônico, Síndrome Ombro-Mão, Distúrbio
Vasomotor Pós-traumático.
O termo Síndrome Complexa de Dor Regional foi
adotado pelo Subcomitê de Taxonomia da IASP (International Association for the
Study of Pain) em 1994, após um Consenso entre especialistas mundiais em dor,
substituindo o termo Distrofia Simpática Reflexa, amplamente utilizado naquela
época.
O termo Distrofia Simpática Reflexa, embora
consagrado, sugeria um mecanismo fisiopatológico que nunca foi comprovado. Além
disso, muitos pacientes não apresentavam alterações tróficas e não respondiam
ao bloqueio regional do sistema nervoso simpático1.
O termo Dor mantida pelo Sistema Nervoso Simpático
deveria ser reservado para pacientes com dor crônica que melhoravam após o
bloqueio do Sistema Nervoso Simpático (por exemplo: alguns casos de Neuralgia
Pós-Herpética).
SINAIS E SINTOMAS
Os sinais e sintomas localizam-se mais
frequentemente na extremidade dos membros, possivelmente porque são os locais
mais expostos aos traumatismos, mas podem ocorrer em qualquer parte do corpo
recoberto por pele, havendo relato de acometimento em face e genitálias.
Os sinais e sintomas mais comumente encontrados
são: dor, edema, alterações da motricidade e da sensibilidade, alterações da
coloração e temperatura da pele, alterações na sudorese e alterações tróficas.
Mecanismos Fisiopatológicos
Os mecanismos envolvidos na gênese e sustentação da
síndrome ainda são desconhecidos. Provavelmente diferentes eventos
fisiopatológicos ocorrem em locais distintos, simultaneamente ou em seqüência.
Não existe um modelo que explique todas as formas de apresentação e evolução da
síndrome.
O ciclo reverberante de dor, imobilização, desuso,
piora da dor, parece ser importante na gênese e perpetuação do quadro,
entretanto não pode explicar todos os casos.
As alterações do estado psicológico e humor não parecem
ser primários.
Acredita-se que o desenvolvimento e a manutenção da
SCDR ocorram devido a disfunções do neuroeixo, incluindo o Sistema Nervoso
Central (SNC) e o Periférico, com seus componentes sensitivos, motor e autônomo1,3.
Em muitos pacientes, o comprometimento miofascial
regional também parecer contribuir de forma significativa para a manutenção do
quadro. É importante lembrar que os diferentes sistemas do organismo estão
integrados e relacionados a todos os outros. Estresse psicológico tem efeito
fisiológico direto sobre o neuroeixo e o sistema musculoesquelético. O grau de
participação de cada sistema deve variar de paciente para paciente, devido às
diferenças individuais.
A SCDR parece não refletir um simples evento
fisiopatológico, mas ao contrário, tratar-se de distúrbios heterogêneos onde
diversos mecanismos fisiopatológicos resultam em similares sinais e sintomas
clínicos.
Estudos demonstram que até 50% dos pacientes com
SCDR I desenvolvem hipoestesia e hipoalgesia no hemicorpo ou no quadrante
superior ipsilateral a extremidade afetada. Pacientes com esses déficits
sensoriais tem uma maior duração da doença, maior intensidade de dor, maior
freqüência de alodínia mecânica maior tendência em desenvolver alterações no
sistema somatomotor do que pacientes com déficits sensoriais restrito
espacialmente.
Essas mudanças somatosensoriais são provavelmente
decorrentes de alterações da representação central de sensações
somatosensoriais no tálamo e no córtex. Estudos de tomografia com emissão de
pósitron, magnetoencefalografia e ressonância nuclear magnética funcional
observam alteração da representação do córtex sensitivo primário do membro
afetado, bem como aumento da atividade do córtex, fato provavelmente associado
ao influxo nociceptivo contínuo nessa área e que pode diminuir uma vez que seja
empregado tratamento eficaz .
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é baseado na história e nos achados
clínicos.
Exames complementares são solicitados para excluir
outras patologias ou co-morbidades. Os mais importantes são:
Laboratoriais
Exames de imagem
Exames funcionais.
Os exames laboratoriais necessários são: hemograma,
provas inflamatórias de fase aguda, pesquisa dos marcadores de atividade
reumática, função tireoideana e glicemia. Esses testes objetivam realizar
diagnóstico diferencial com outras doenças que causam sintomas semelhantes aos
da SCDR, já que nenhum desses exames apresentam informação específica que
diagnostique SCDR.
Os exames de imagem como Raio-X, Ultra-som,
Tomografia Computadorizada, Ressonância Magnética , Cintilografia e a
Densitometria óssea são importantes também para avaliação de lesões ósseas,
ligamentares ou articulares ocultas ou suspeitas. Muitas vezes somente usando
métodos de imagem adequados é que podemos constatar lesões benignas ou malignas
em pequenas estruturas que podem influenciar no diagnóstico e tratamento.
São mais importantes durante o período inicial da
doença para o diagnóstico diferencial, apesar de poderem demonstrar também as
lesões atróficas das fases mais avançadas.
A eletroneuromiografia é importante para o
diagnóstico da lesão nervosa associada ou para o diferencial com outras
radículo-neuropatias.
Teste sensorial quantitativo informa o perfil sensorial do sintoma do doente
(função ou disfunção de fibras aferentes mielinizadas e amielinizadas) testando
limiares térmicos, vibratórios e dolorosos. No entanto, não há perfil sensorial
característico da SCDR.
Testes autonômicos com o teste quantitativo do reflexo do axônio sudomotor
fornece informação sobre a função do reflexo sudomotor. O edema pode ser
quantificado por medir o deslocamento de água causado quando os membro são
introduzidos em um recipiente. Função vascular autonômica pode ser testado por
doppler fluxometria a laser e termografia infra-vermelho.
A termografia quantitativa da pele é um meio de
demonstrar a variação do fluxo sanguíneo. Um estudo que avaliou o valor
diagnóstico da assimetria de temperatura em SCDR, encontrou sensibilidade de
32% em repouso, que aumentou até 76% durante alteração controlada da atividade
simpática (aquecimento e esfriamento do corpo) e 93% de especificidade.
TRATAMENTO
O paciente requer um modelo de tratamento
multidisciplinar onde os cuidados estão centrados na reabilitação, que é o
componente mais importante, associado ao uso de medicamentos para aliviar os
sintomas1,3,5,7,9,11,18,19.
A abordagem deve envolver:
Tratamento analgésico
Tratamento fisioterápico
Tratamento psicológico
Os locais apropriados para o tratamento destes
pacientes são as Clínicas de Dor.
O objetivo da equipe deve ser o restabelecimento da
função do membro afetado (mesmo que em longo prazo), prevenção das alterações
tróficas dos tecidos e a reabilitação psíquica, social e profissional. Os
esforços e atenção devem ser concentrados na terapia física vigorosa e
ocupacional.
Tratamento médico
O papel do médico é coordenar a equipe, promover o
alívio dos sintomas facilitando a reabilitação.
O controle analgésico pode ser alcançado utilizando
medicamentos ou métodos cirúrgicos. Técnicas como Acupuntura ou Hipnose podem
ser úteis, mas ficam reservadas para profissionais qualificados.
O médico deve incentivar e motivar o paciente, os
familiares e a sua equipe. Identificar e evitar condutas e atitudes
iatrogênias.
A interrupção do tabagismo parece diminuir a incidência
de SCDR. Em um estudo retrospectivo com 53 pacientes com SCDR, houve menor
incidência da doença entre os não fumantes (68 versus 37%).13 Tratamento
farmacológico A ausênica de entendimento dos mecanismos patofisiológicos e de
claros critérios diagnósticos dificultam a realização de estudos que avaliem as
modalidades terapêuticas para a SCDR. Na literatura internacional há três
revisões de estudos que avaliam o tratamento da SCDR, com resultados pouco estimulantes,
e estudos de pouca qualidade.
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