Elizabeth Aparecida da Silva mal consegue andar.
Ricardo do Prado Silva também não aguenta mais. Eles estão sentindo dor. Muita
dor na coluna. Há muito tempo. Mas esse sofrimento está com os dias contados.
Daqui a menos de uma semana, eles vão passar por
uma cirurgia no Hospital das Clínicas, em São Paulo. Vamos conhecê-los um pouco
melhor.
Elizabeth mora com a mãe e a irmã. Não trabalha
fora. Mas, em casa, ajuda na limpeza. E alimenta os animais de estimação. Seis
cachorros. Quatro gatos. Uma pata e uma perua.
“Quando essas dores começaram?”, perguntou a
repórter Tatiana Nascimento.
“Já faz uns 6 anos”, respondeu Elizabeth Aparecida
da Silva, dona de casa.
“Você está apostando todas as cartas nessa cirurgia
de agora?”, questionou a repórter.
“Estou”, respondeu
“Eu estou apavorada de ver você assim, travada e se
mexendo”, disse Tatiana.
“Não, essa dor dói. Mas isso passa, se Deus quiser,
se Deus quiser”, explicou Elizabeth.
“Se você estivesse sem o medicamento. Você
conseguiria caminhar?”, perguntou Tatiana Nascimento.
“Sem condições. Sairia lágrimas dos olhos”,
respondeu Ricardo do Prado Silva, instrumentador cirúrgico.
Ricardo é instrumentador cirúrgico. “Eu fico de
frente pra mesa do paciente, pra mesa operatória e aí eu fico, na realidade, um
mau hábito, com o torso virado”, contou.
“Você não vira o corpo inteiro? Você fica assim pra ganhar tempo ali no centro
cirúrgico?”, perguntou a repórter.
“Exatamente”, respondeu Ricardo.
Os exercícios ajudam Ricardo a aguentar firme, até
a cirurgia.
“Eu andei caindo umas duas vezes, porque eu perdi a
movimentação da perna. Parei de sentir a perna e caí”, contou Ricardo.
“Bom, Ricardo, a gente vai estar ali, torcendo pra
você sair faceiro, contente do hospital. Você torcer pra que você saia leve,
livre e solto do hospital”, disse a repórter Tatiana Nascimento.
Nosso próximo encontro vai ser no Hospital das
Clínicas, daqui a quatro dias. Dor na coluna leva muita gente pro hospital.
Passo a passo, estas pessoas tem experimentado um tratamento diferente.
Estamos em São Mateus, na periferia de São Paulo.
Em 2008, em parceria com a Universidade Federal de São Paulo, o Hospital Geral
de São Mateus passou a formar grupos de meditação para a terceira idade. E quem
reclamava de dor nas costas, agora, não quer saber de outra vida.
O médico gerontólogo Fernando Bignardi, da Unifesp,
veio conduzir a meditação. Dona Nilza é paciente antiga.
“Quando eu fiz a primeira vez, já senti o
resultado. Aí, eu falei: não vou parar. Vou fazer. Aí, com três meses eu já
estava quase 80% ótima”, disse Nilza de Souza Silva, de 73 anos.
“Ela tem uma grande qualidade. Ela foi
disciplinada. Acompanhou todos os encontros e passou a fazer a meditação
diariamente na casa dela. E os resultados vieram”, contou Maridite de Oliveira,
diretora do Hospital Geral de São Mateus.
“É que nem estação de rádio. Às vezes você está na
estação que está dando notícia ruim, que matou um, matou outro, não sei o que.
Daí, você fala ‘não quero saber disso’. Daí você muda a estação do rádio. A
meditação é uma forma voluntária de mudar a estação do rádio. Que rádio? O
rádio da nossa mente”, explicou Fernando Bignardi, médico gerontólogo da
Ufifesp.
Dona Nilza mudou a postura diante da vida.
Aprendendo a meditar, ela conquistou o direito de poder andar com as próprias
pernas.
“A única coisa que eu não faço é limpar o teto. No
mais, tudo eu faço. Faço compra, cuido das minhas plantas. Tem planta lá pra
baixo. Aqui sou eu e eu mesmo”, contou Nilza.
“Dor a senhora não tem mais?”, perguntou Tatiana
Nascimento.
“Não, não tenho. Tenho artrose e bico de papagaio,
mas só que se você ficar parada, o que vai acontecer? Os ossos vão travando. É
a mesma coisa que você ter uma mola e deixa aquela mola lá, parada. Ela vai enferrujar
e trava e não vai mais. Se você lubrificar aquela mola. Ela está sempre”,
respondeu Nilza.
A coluna melhorou tanto que ela já consegue fazer
exercícios em casa.
“Dez minutos desse exercício vale por uma hora de
caminhada”, disse Nilza.
A filha da dona Nilza ficou impressionada.
“O negócio é quando você começar, você não parar.
Eu não paro mais, porque foi o que me deu vida, me deu saúde, me deu paciência
e hoje eu sou completamente feliz”, ressaltou Nilza.
Não é milagre. É preciso arrumar tempo para os
exercícios. Mas, quem tem dor, tem pressa. Hora de reencontrar Elizabeth e
Ricardo.
“Agora, são 5h50 de uma segunda-feira. A gente está
em frente ao Hospital das Clínicas em São Paulo. A Elizabeth e o Ricardo vão
ser operados hoje. Ou melhor: daqui a pouco. A Elizabeth chegou agora”, disse a
repórter Tatiana Nascimento.
“Estou com dores ainda”, contou Elizabeth.
“A gente se encontrou cinco dias atrás. A coluna
não parou de doer?”, quis saber Tatiana.
“Não, porque essa dor. Não sei se é de mau jeito.
Mas ela me perturba demais”, contou Elizabeth.
Dava pra ver a dor de Elizabeth.
Ricardo tem hérnia de disco e vai receber uma
injeção de corticoides e analgésicos pra acabar com a dor. Um ano e meio
depois, sofrendo. Em menos de 10 minutos a dor foi embora.
“Esses procedimentos menos invasivos, eles são tão
efetivos quanto os habituais, os mais consagrados na literatura. E com
cirurgias em que o corte é menor. Porque daí, em vez de fazer um corte muito
maior e lesar músculos e outras estruturas de forma muito mais importante a
gente consegue fazer isso com cortes menores e com lesões menores na musculatura”,
afirmou Alexandre Fogaça, médico ortopedista do IOT-HCFMUSP.
Depois, foi a vez da Elizabeth.
“Esse é o eletrodo, vai por dentro da agulha e a
pontinha dele na agulha é que vai causar a lesão do nervo. É uma lesão térmica,
então, lesão causada por calor. A gente eleva a temperatura da ponta da agulha
até 90°C durante um minuto. Isso é suficiente pra causar uma pequena lesão
somente naquele nervo, sem afetar as estruturas em volta. É como se vocês
fizessem um desligamento provisório de todos os nervinhos que estão
relacionados à sensibilidade dessas articulações”, explicou Ivan Rocha, médico
ortopedista do IOT-HCFMUSP.
“Esse desligamento. Ele é por quanto tempo?”,
perguntou Tatiana.
“Em geral de um ano, um ano e meio, a pessoa
aumenta o processo de reabilitação, ou seja, ela consegue fazer mais atividades
de fortalecimento muscular que auxiliam também na manutenção dessa melhora e
esse efeito pode ser mais duradouro”, respondeu Ivan.
“Duas horas e meia depois do procedimento,
Elizabeth já recebeu alta, prontinha pra ir embora”, disse Tatiana.
“Sem dor, graças a deus”, contou Elizabeth.
Ricardo também já vai pra casa. Agora é com eles.
Um mês depois, Elizabeth se queixou da coluna.
“Talvez se você tivesse feito um repouso maior,
você estaria quase sem dor. Esse tipo de cirurgia gera um processo infamatório
Elizabeth. Não pode ficar abaixando, levantando, lavando quintal, lavando
louça”, explicou o médico.
“Eu pisei na bola”, concluiu Elizabeth.
Ricardo também voltou a sentir dores e os médicos
decidiram fazer uma nova cirurgia.
“A gente pode repetir esse procedimento até 3
vezes. Se não der certo, aí gente tem que subir um degrau e partir para
tratamentos mais invasivos”, afirmou o médico.
Ricardo, agora fica na torcida.
Dante Boaretto deu mais sorte. Foram dezenove meses
com dor até operar a coluna há dois anos.
“A dor não voltou?”, perguntou a repórter.
“Não. Nunca mais”, respondeu.
A técnica escolhida pro caso dele é chamada spine
jet.
“Você remove parte do disco, isso tira a pressão do
disco, tira a pressão do nervo”, explicou o médico.
“E você faz isso com um jato d’água?”, quis saber a
repórter.
“Com um jato d`água”, confirmou.
“Na tua rotina diária, quanto tempo você costuma
ficar dirigindo?”, perguntou a repórter para o Dante.
“De 5 a seis horas. Trajeto de casa trabalho,
trabalho casa, é uma situação que antes pra mim era impossível”, respondeu.
Em casa a rotina também voltou ao normal.
“Assistir uma televisão, por exemplo, sentado
normalmente eu não conseguia. Eu tinha que assistir TV recostado. Era a única
postura que eu conseguia assistir televisão”, contou Dante.
“E como é que foi a cirurgia? O tempo que durou?”,
perguntou Tatiana.
“Meia hora. Depois eu acho que de duas a três horas
eu tive alta. Saí andando e dirigindo sem dor”, respondeu Dante.
“Então pra você deu cero?”, questionou a repórter.
“Perfeito. Pra mim foi perfeito”, concluiu.
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