Cientistas da Unesp de Araraquara, SP, iniciarão testes em seres
humanos.
Doença atinge um brasileiro a cada grupo de 1 mil pessoas.
Do G1 Araraquara e Região. 23/02/2012
Pesquisadores
da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), em Araraquara, no interior de São Paulo,
desenvolveram um novo princípio ativo que pode auxiliar no tratamento da anemia
falciforme. Testes feitos em laboratório resultaram na criação de uma molécula
quatro vezes mais potente do que a utilizada atualmente na indústria farmacêutica.
A anemia falciforme é uma doença genética e não tem cura.
Os estudos, que
tiveram início em 2005, alcançaram resultados positivos nos testes feitos com
células e com camundongos doentes e partem, agora, para a fase decisiva com
aplicações em seres humanos. Segundo a coordenadora do projeto Chung Man Chin,
o novo princípio permite que o paciente receba seis doses a menos do que a
recomendada hoje e não oferece efeitos colaterais. “Na totalidade, ele funciona
24 vezes mais que o medicamento que existe no mercado atual, além de possuir
ação analgésica", diz Chin.
A anemia falciforme ataca os glóbulos vermelhos, que transportam o oxigênio aos
órgãos e tecidos. As células arredondadas e elásticas, que assumem forma de
foice e se tornam rígidas, dificultam a passagem pelos vasos sanguíneos, o que
implica fortes dores, principalmente nos músculos e nos ossos. A doença pode
levar o paciente a sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) e infarto
pulmonar.
Com base nos
estudos feitos pela equipe da Unesp, uma empresa farmacêutica firmou um
contrato que prevê o investimento de R$ 5 milhões na pesquisa. "Depois que
a indústria observou que os compostos têm atividade biológica, ela se
interessou no desenvolvimento da substância para que ela se torne um novo medicamento",
afirma o pesquisador Jean Leandro dos Santos. O medicamento devrá demorar oito
anos para ser comercializado.
Dados
Estimativas apontam que a cada mil brasileiros um é portador de anemia
falciforme. A mutação genética surgiu na África e atinge em sua maioria,
negros. O doente pode carregar o gene modificado, mesmo sendo saudável. “Quando
uma pessoa que tem o traço da anemia falciforme tem um filho com outro
indivíduo também possuidor do traço, essa criança pode manifestar a doença em
sua forma mais grave", explica o hematologista Reinaldo Bonfá.
A anemia
falciforme pode ser diagnosticada com o teste do pezinho, logo após o
nascimento do bebê. O teste é obrigatório e feito gratuitamente na rede pública
de saúde. Já os pais podem descobrir se são possuidores do traço da doença pelo
exame chamado eletroforese de hemoglobina.