As doenças cardiovasculares representam uma importante causa de morbilidade e mortalidade, em especial nos países mais industrializados – incluindo Portugal – onde se constituem como principais causas de morte e incapacidade.
As formas mais comuns de manifestação de doença – o enfarte agudo do miocárdio (EAM) e o acidente vascular cerebral (AVC) – são acontecimentos súbitos e devastadores, um primeiro sinal tardio de uma doença grave que é então impossível prevenir.
Este percurso evolutivo inicia-se em idades muito jovens, facilitada pelo efeito combinado de uma série de condições favoráveis. A intervenção precoce e o controlo destas condições permite prevenir ou retardar, de forma eficaz, o desenvolvimento da doença aterosclerótica.
Às condições que se associam a uma probabilidade aumentada de desenvolver doença cardiovascular dá-se o nome de factores de risco cardiovascular. Estão estudados mais de 300 marcadores de risco, sendo que o seu peso e importância relativa são muito variáveis. É, por isso, necessário salientar que os factores para os quais existe maior evidência, e que por essa razão apresentam maior relevo, constituem um grupo muito reduzido. Para além da idade, incluem o tabagismo, a hipertensão arterial, a diabetes mellitus, níveis de colesterol total ou LDL elevados e níveis reduzidos de colesterol HDL.
Um aspecto que daqui decorre imediatamente é que estes factores, com excepção da idade, são modificáveis, isto é, podem sofrer intervenções que permitam controlar a sua influência. Os benefícios que daí resultam serão tanto maiores quanto mais precoce e mais integrada for a intervenção. Os benefícios podem estender-se aos indivíduos ou populações que pretendam minimizar o seu risco e, assim, prevenir o aparecimento de doença, mas também ao grupo particular de indivíduos já doentes que, dessa forma, podem obter melhor controlo da sua doença e minorar as suas consequências.
Neste contexto deve realçar-se a importância do estilo de vida, dos comportamentos, do grau de actividade física e do padrão nutricional, como condições que influenciam e modificam – para o bem e para o mal – os factores de risco major já mencionados. O sedentarismo, o stress psicossocial, o tabagismo, a ingestão de bebidas alcoólicas e o excesso de peso, favorecem directa e indirectamente o desenvolvimento de aterosclerose e de doenças a ela associadas, como a diabetes ou a hipertensão arterial. Nestas condições, existirá um ambiente propício à expressão mais completa e mais precoce das manifestações de aterosclerose para as quais a história familiar ou a carga genética condicionem uma maior propensão.
As doenças cardiovasculares podem evoluir de forma muito silenciosa, sendo, por isso, necessário reconhecer que os sinais e sintomas que a manifestam podem ser tardios.
O aparecimento tardio destes sintomas condiciona, por outro lado, importantes implicações práticas, tendo em conta a gravidade das doenças subjacentes.
Assim, é essencial reconhecer os sinais mais importantes de doença, de forma a facilitar o seu diagnóstico, garantir o seu tratamento atempado e evitar a morte e o prejuízo funcional que acarretam.
No AVC os sinais de alarme incluem a perda de força nos membros, as alterações da mímica facial, os “desvios da boca”, as perturbações da fala, as alterações do estado de consciência.
No caso do EAM, os sinais de alarme incluem a dor constritiva no peito que pode irradiar para os braços, o pescoço, a mandíbula ou as costas. Esta dor pode decorrer de um esforço ou surgir em repouso, associando-se muitas vezes a uma sensação de mal-estar, náusea, vómitos, suores frios e, por vezes, até falta de ar.
É preciso ser mais rápido que o AVC ou que o EAM, activando imediatamente os serviços de emergência. Cada minuto conta para diminuir o risco de morte e aumentar a probabilidade de uma boa recuperação funcional.
O diagnóstico das doenças cardiovasculares faz-se pelos sinais e sintomas de doença já descritos, por uma avaliação médica cuidadosa e pela sua confirmação através de testes e exames complementares. No caso do EAM, podem utilizar-se o electrocardiograma e testes laboratoriais que detectam o sofrimento cardíaco; no caso do AVC, exames complementares como a TAC cerebral.
Sabe-se, porém, que o diagnóstico destas complicações da doença cardiovascular resulta de um estado avançado do processo de aterosclerose e, por isso, quando se fala em diagnóstico não deve esquecer-se a importância da detecção precoce de factores de risco vascular que possam, à distância, contribuir para a morbilidade e mortalidade que pretendemos evitar.
O grande objectivo do tratamento das doenças cardiovasculares é evitar a morte, restaurando o fluxo de sangue aos tecidos lesados, de forma a minimizar a perda funcional que daí possa resultar. O benefício será proporcional à precocidade da intervenção. A rápida transferência para o hospital permite a confirmação do diagnóstico e a utilização das técnicas terapêuticas mais adequadas.
Os coágulos que, na sequência da ruptura da parede das artérias, as entopem, condicionando a obstrução da circulação sanguínea podem ser destruídos utilizando fármacos trombolíticos; ou técnicas de intervenção endovascular que, identificado o vaso obstruído, nele intervêm, de forma a restabelecer, por um leque variado de meios, a circulação comprometida. A estas terapêuticas podem juntar-se outras que contribuem para consolidar o seu efeito e maximizar os seus benefícios.
Importa, porém, salientar que o sucesso no tratamento e abordagem dos factores de risco vascular é a forma mais eficaz de prevenir e combater estas doenças, reduzindo os custos pessoais e sociais que acarretam.
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