O pâncreas é uma glândula em forma de folha, com aproximadamente 13 cm de comprimento. Está rodeado pelo segmento inferior do estômago e pelo duodeno (a primeira parte do intestino delgado que liga com o estômago). O pâncreas tem duas funções principais: a secreção para o duodeno de líquidos com enzimas digestivos e a secreção das hormonas insulina e glucagina, as quais são necessárias para metabolizar o açúcar.
Este órgão também segrega grandes quantidades de bicarbonato de sódio (bem como de água) para o duodeno, o qual neutraliza o ácido proveniente do estômago.
Esta secreção de bicarbonato de sódio flui através duma série de canais colectores que correm ao longo da porção central do pâncreas (canal pancreático). Este canal liga-se posteriormente ao canal biliar comum, procedente da vesícula biliar e do fígado, para formar a ampola de Vater, que, finalmente, desemboca no duodeno ao nível do esfíncter de Oddi.
A pancreatite aguda é uma inflamação do pâncreas, de aparecimento súbito, que pode ser ligeira ou mortal.
Normalmente, o pâncreas segrega suco pancreático para o duodeno através do canal pancreático. Este suco contém enzimas digestivos na forma inactiva, além dum inibidor que impede que qualquer enzima possa ser activado no seu caminho para o duodeno. A obstrução do canal pancreático (por exemplo, por um cálculo biliar encravado no esfíncter de Oddi) interrompe o fluxo do suco pancreático.
Normalmente, a obstrução é temporária e provoca um dano limitado, que rapidamente se repara. Mas se esta persistir, os enzimas activados acumulam-se no pâncreas, ultrapassam a capacidade do inibidor e começam a digerir as próprias células pancreáticas, provocando uma grave inflamação.
A lesão pancreática pode permitir aos enzimas sair para o exterior e penetrar na corrente sanguínea ou na cavidade abdominal, onde provocam irritação e inflamação do revestimento da cavidade (peritonite) ou de outros órgãos.
A porção do pâncreas que produz hormonas, especialmente a insulina, não costuma ser afectada nem lesionada.
Os cálculos biliares e o alcoolismo são responsáveis por quase 80 % dos internamentos hospitalares por pancreatite aguda. As mulheres sofrem pancreatites de causa obstrutiva quase duas vezes mais que os homens, enquanto nestes a pancreatite de origem alcoólica é seis vezes mais frequente. Os cálculos biliares que provocam pancreatite aguda podem ficar retidos no esfíncter de Oddi durante algum tempo, bloqueando assim a saída do canal pancreático; no entanto, a maioria dos cálculos biliares passa para o tubo intestinal. A ingestão de mais de 100 g de álcool por dia durante vários anos pode provocar a obstrução dos pequenos canais pancreático que drenam para o canal principal, precipitando finalmente o desenvolvimento duma pancreatite aguda. Uma crise de pancreatite pode ocorrer após uma ingestão excessiva de álcool ou depois duma refeição abundante. Há muitas outras afecções que podem provocar uma pancreatite aguda.
Sintomas
Quase todas as pessoas com pancreatite aguda sentem uma intensa dor abdominal na zona superior do abdómen médio, abaixo do esterno. Muitas vezes, a dor irradia para as costas. Em casos raros, sente-se primeiro na zona inferior do abdómen. Geralmente, a dor começa de forma súbita e atinge a sua máxima intensidade em poucos minutos, mantém-se constante e intensa, é de carácter penetrante e dura vários dias. Muitas vezes, nem com a injecção de doses significativas de analgésicos é completamente aliviada. Pode piorar com a tosse, com os movimentos bruscos e com a respiração profunda. Pode ser aliviada em parte, sentando-se e inclinando-se para a frente. Regra geral, os afectados sentem náuseas e têm de vomitar, por vezes até ao ponto de ter contracções em seco (náuseas sem vómito).
Algumas pessoas, sobretudo as que desenvolvem uma pancreatite devida ao alcoolismo, podem não ter nenhum sintoma, excepto uma dor moderada. Outras sentem-se muito mal, têm um aspecto doentio e suado e têm o pulso acelerado (100 a 140 pulsações por minuto), bem como uma respiração rápida e profunda. A respiração rápida pode dever-se em parte a uma inflamação dos pulmões.
Ao princípio a temperatura do corpo pode ser normal, mas em poucas horas pode atingir entre 37,5ÞC e 38,5ÞC. A tensão arterial pode ser alta ou baixa, mas tem tendência para diminuir quando a pessoa se põe de pé, provocando desfalecimentos. À medida que o quadro progride, a pessoa tende a perder o contacto com o que a rodeia. Algumas ficam quase inconscientes. Por vezes, o branco dos olhos (esclerótida) torna-se amarelado.
Uma em cada cinco pessoas com pancreatite aguda desenvolve um tipo de inflamação na parte alta do abdómen. Esta pode ser devida a uma interrupção do trânsito do conteúdo gástrico e intestinal (perturbação conhecido como íleo gastrointestinal) ou ao facto da o pâncreas inflamado aumentar de tamanho e empurrar o estômago para a frente. Também se pode acumular líquido no abdómen (ascite).
Na pancreatite aguda grave (pancreatite necrosante), a tensão arterial pode descer e desenvolver-se um estado de choque. A pancreatite aguda grave pode ser mortal.
Diagnóstico
A dor abdominal característica faz com que o médico suspeite duma pancreatite aguda, sobretudo nas pessoas que tenham cálculos biliares ou que ingiram muito álcool. No exame físico, percebe-se muitas vezes que os músculos da parede abdominal estão rígidos. Quando se examina o abdómen com um fonendoscópio, o médico pode aperceber-se de uma diminuição dos ruídos intestinais (ruídos hidroaéreos).
Não existe uma única análise ao sangue que diagnostique uma pancreatite aguda, mas certas determinações confirmam o diagnóstico. No primeiro dia da doença os valores sanguíneos de dois enzimas produzidos pelo pâncreas (a amilase e a lipase) aumentam, mas voltam ao normal num prazo de 3 a 7 dias. Algumas vezes, no entanto, estes valores não aumentam devido ao facto de grande parte do pâncreas ter sido destruída durante crises anteriores de pancreatite e ficarem poucas células para libertar enzimas. As pessoas com pancreatite aguda grave têm muitas vezes menos glóbulos vermelhos que o normal, devido a hemorragias no pâncreas e no abdómen.
As radiografias simples do abdómen podem mostrar ansas intestinais dilatadas ou, em casos isolados, um ou mais cálculos biliares. A ecografia pode revelar a presença de cálculos na vesícula biliar e, por vezes, no canal biliar comum e também pode detectar um pâncreas inflamado.
A tomografia axial computadorizada (TAC) é particularmente útil para detectar alterações no tamanho do pâncreas e é usada em casos graves e complicados, como uma tensão arterial muito baixa. As imagens da TAC são tão claras que ajudam o médico a estabelecer um diagnóstico rigoroso.
Na pancreatite aguda grave, a TAC ajuda a determinar o prognóstico. Se as imagens indicarem uma inflamação moderada do pâncreas, o prognóstico é excelente, mas se forem observadas grandes áreas de tecido pancreático destruído, o prognóstico não é tão bom.
A colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (técnica radiológica que mostra a estrutura do canal biliar comum e do canal pancreático) normalmente só é efectuada quando se suspeita de que a causa da pancreatite é um cálculo encravado no canal biliar comum. O médico introduz um endoscópio pela boca do paciente até ao intestino delgado, onde se encontra o esfíncter de Oddi. Em seguida, injecta um contraste radiopaco nos canais, o qual é visível aos raios X. Se as radiografias mostrarem um cálculo, pode-se utilizar o mesmo endoscópio para o retirar.
Tratamento
Em geral, as pessoas com pancreatite são hospitalizadas. Uma pessoa com uma pancreatite aguda moderada deve evitar o consumo de alimentos e de água porque isso estimula o pâncreas a produzir mais enzimas. Os líquidos e nutrientes são administrados por via endovenosa. É introduzida uma sonda pelo nariz até ao estômago para aspirar o líquido e o ar, sobretudo se persistirem as náuseas e os vómitos.
A pessoa com uma pancreatite aguda grave normalmente é internada na unidade de cuidados intensivos para controlar de perto os sinais vitais (pulso, tensão arterial e frequência respiratória). De hora a hora é medido o volume de urina. Também são recolhidas amostras de sangue para analisar vários componentes do mesmo, como o hematócrito, os valores da glicose e dos electrólitos, a contagem de glóbulos brancos e as concentrações de diversos enzimas no sangue.
O doente é alimentado por via endovenosa e não recebe nada por via oral durante pelo menos duas semanas e, inclusivamente, até seis. Mantém-se o estômago vazio por meio duma sonda nasogástrica e são administrados antiácidos com frequência para ajudar a prevenir o desenvolvimento de úlceras.
O volume de sangue é cuidadosamente controlado mediante a administração de líquidos por via endovenosa e também se controla a função cardíaca. É administrado oxigénio com uma máscara facial ou por meio dum tubo nasal para aumentar a sua concentração no sangue. Se este tratamento for inadequado, o doente pode ser submetido a um respirador artificial que o ajude a respirar. A dor intensa é normalmente tratada com o fármaco meperidina.
Por vezes, durante os primeiros dias duma pancreatite aguda grave pode ser necessário intervir cirurgicamente. Por exemplo, pode ser necessário recorrer à cirurgia para aliviar uma pancreatite secundária a um traumatismo ou a uma ferida, ou pode-se efectuar uma exploração cirúrgica para esclarecer um diagnóstico incerto. Por vezes, se a situação da pessoa se deteriorar depois da primeira semana de doença, faz-se uma intervenção cirúrgica para retirar o tecido pancreático infectado que não desempenha a sua função.
A infecção dum pâncreas inflamado é um risco, sobretudo depois da primeira semana de doença. O médico pode suspeitar duma infecção quando a situação do paciente piora e surge febre com aumento da contagem de glóbulos brancos no sangue, apesar de outros sintomas terem começado a regredir. O diagnóstico é estabelecido por meio da cultura de amostras de sangue e mediante uma tomografia axial computadorizada (TAC). Pode ser obtida uma amostra de material infectado do pâncreas, inserindo nele uma agulha através da pele. As infecções são tratadas com antibióticos e cirurgia.
Algumas vezes desenvolve-se no pâncreas um pseudoquisto, carregado de enzimas pancreáticos, líquido e restos de tecido, que pode atingir grande volume. Se um pseudoquisto crescer muito e provocar dor ou outros sintomas, o cirurgião descomprimi-lo-á. A necessidade de descompressão é particularmente urgente se o pseudoquisto se expandir rapidamente, se infectar, sangrar ou parecer que está a ponto de rebentar. Dependendo da sua localização, a descompressão faz-se inserindo um cateter através da pele, o que permite que o pseudoquisto se vá esvaziando ao longo de várias semanas ou, então, mediante uma intervenção cirúrgica.
Quando a pancreatite aguda é consequência de cálculos biliares, o tratamento depende da sua gravidade. Se a pancreatite for moderada, a extracção dos cálculos geralmente pode ser adiada até que os sintomas desapareçam. A pancreatite grave causada por cálculos biliares pode ser tratada com endoscopia ou cirurgia. O procedimento cirúrgico consiste na eliminação da vesícula biliar e na limpeza dos canais. Em pessoas de idade avançada com outros processos, como uma doença do coração, muitas vezes faz-se primeiro a endoscopia, mas se este tratamento falhar deve-se levar a cabo uma intervenção cirúrgica.
| Litíase do colédoco
Uma litíase na extremidade do colédoco (ao nível da ampola de Vater) pode obstruir a drenagem do canal pancreático e ser causa de pancreatite. |
Pseudoquistos pancreáticos
Podem constituir uma complicação da pancreatite aguda. |
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Causas de pancreatite aguda
Cálculos biliares |
Alcoolismo |
Fármacos como a furosemida e a azatioprina |
Parotidite |
Altos níveis de lípidos, especialmente triglicéridos |
Lesão do pâncreas por feridas contusas ou penetrantes |
Cancro do pâncreas |
Redução da chegada de sangue ao pâncreas, por exemplo, devido a uma intensa diminuição da tensão arterial |
Pancreatite hereditária |
Lesão do pâncreas por cirurgia ou endoscopia |
A pancreatite crónica é uma inflamação do pâncreas de longa evolução.
Em muitos países, o alcoolismo é a causa mais frequente de pancreatite crónica. Outras causas são uma predisposição hereditária e uma obstrução do canal pancreático devida a uma estenose (estreitamento) do mesmo ou a um cancro do pâncreas. Em casos excepcionais, uma crise grave de pancreatite aguda pode estenosar o canal ao ponto de provocar uma pancreatite crónica. Em muitos casos, desconhece-se a causa.
Em países tropicais (por exemplo, Índia, Indonésia e Nigéria), uma pancreatite crónica de origem desconhecida em crianças e em adultos jovens dá lugar a diabetes e à formação de depósitos de cálcio no pâncreas. Os sintomas iniciais são, normalmente, consequência da diabetes.
Sintomas
Os sintomas da pancreatite crónica agrupam-se geralmente em dois padrões. Num deles, a dor localiza-se a meio do abdómen, é persistente mas a sua intensidade varia. No outro, ocorrem crises intermitentes de pancreatite com sintomas semelhantes aos da pancreatite aguda ligeira ou moderada. A dor às vezes é intensa e dura algumas horas ou vários dias. Em cada padrão, à medida que a pancreatite crónica progride, as células que segregam os enzimas digestivos são destruídas lentamente e, por fim, não se sento dor.
Ao diminuir o número de enzimas digestivas, a comida é inadequadamente absorvida e a pessoa pode ter fezes volumosas e fétidas. As fezes são de coloração clara e aspecto gorduroso e podem conter até gotas de gordura. A má absorção conduz também à perda de peso. Finalmente, podem ser destruídas as células pancreáticas produtoras de insulina, o que degenera gradualmente numa diabetes.
Diagnóstico
De acordo com os sintomas ou com uma história de crises de pancreatite aguda, o médico suspeita duma pancreatite crónica. As análises ao sangue são menos úteis para diagnosticar uma pancreatite crónica do que para a pancreatite aguda, mas podem detectar valores aumentados de amilase e de lipase. As análises ao sangue também são úteis para controlar a concentração de glicose (um tipo de açúcar) no sangue, que pode ser elevada.
As radiografias ao abdómen e as ecografias podem demonstrar cálculos no pâncreas. A pancreatografia retrógrada endoscópica (uma técnica de radiologia que mostra a estrutura dos canais pancreáticos) pode evidenciar um canal dilatado ou estreitado ou a presença de cálculos no canal. A tomografia axial computadorizada (TAC) pode mostrar tanto as anomalias como o tamanho, forma e textura do pâncreas. Ao contrário da pancreatografia retrógrada endoscópica, uma TAC não requer o uso dum endoscópio.
Tratamento
Durante uma crise, é essencial evitar o álcool. A abstinência de todo o tipo de alimentos e a administração apenas de líquidos por via endovenosa podem manter o pâncreas e o intestino em repouso, aliviando assim a dor. No entanto, muitas vezes é também necessária a administração de analgésicos opiáceos.
Posteriormente, a ingestão de 4 ou 5 refeições diárias, compostas por alimentos com teor baixo em gorduras e proteínas e rico em hidratos de carbono, pode reduzir a frequência e a intensidade das recidivas. O doente deve continuar a abster-se do álcool. Se a dor continuar, o médico procura possíveis complicações, como uma massa inflamatória na cabeça do pâncreas ou um pseudoquisto. Uma massa inflamatória pode requerer uma intervenção cirúrgica. Um pseudoquisto pancreático que provoque dor à medida que cresce pode necessitar de descompressão.
Se o paciente tiver uma dor contínua e nenhuma complicação, o médico normalmente infiltra os nervos do pâncreas para impedir que os impulsos dolorosos cheguem ao cérebro. Se este procedimento falhar, pode-se recorrer à cirurgia. Por exemplo, quando o canal pancreático está dilatado, pode-se criar uma derivação do pâncreas até ao intestino delgado, o que alivia a dor em cerca de 70 % a 80 % dos casos. Quando o canal não está dilatado, pode ser necessário extirpar parte do pâncreas. Se o problema estiver localizado na cauda do pâncreas (a parte mais distante do duodeno), esta pode ser extirpada. Se a cabeça do pâncreas estiver envolvida, esta pode ser extirpada juntamente com o duodeno. Tais intervenções podem aliviar a dor em 60 % a 80 % dos casos. Entre os alcoólicos em reabilitação, a extirpação parcial do pâncreas faz-se só nos que são capazes de controlar por si própios a diabetes que resulta da intervenção cirúrgica.
A administração, com as refeições, de comprimidos ou cápsulas de extractos de enzimas pancreáticos pode fazer com que as fezes sejam menos gordas e que melhore a absorção dos alimentos, mas é raro que estes problemas sejam solucionados por completo. Se for necessário, com os enzimas pancreáticos pode ser tomado um antiácido líquido ou um bloqueador H2. Com este tratamento, o doente ganha algum peso, tem menos evacuações por dia e já não apresenta gotas de gordura nas fezes e, em geral, sente-se melhor. Se estas medidas não forem eficazes, também se pode diminuir as gorduras da dieta. Da mesma forma, podem ser necessários suplementos de vitaminas lipossolúveis (A, D e K).
O adenocarcinoma do pâncreas é um tumor canceroso que é originado nas células que revestem o canal pancreático.
Cerca de 95 % dos casos de tumores cancerosos do pâncreas são adenocarcinomas. Estes tumores são quase duas vezes mais frequentes em homens do que em mulheres e são ligeiramente mais frequentes na etnia negra do que na branca. O adenocarcinoma do pâncreas é dues a três vezes mais frequente nos grandes fumadores do que nos não fumadores. As pessoas com pancreatite crónica correm um alto risco de o sofrer.
À medida que a esperança de vida foi aumentando, esta doença tornou-se mais frequente nos países desenvolvidos. Raramente se desenvolve antes dos 50 anos e a idade média do seu diagnóstico é aos 55 anos. Sabe-se pouco sobre a sua causa.
Adenocarcinoma da cabeça do pâncreas
O adenocarcinoma da cabeça do pâncreas pode provocar uma obstrução do colédoco. |
Sintomas
O adenocarcinoma do pâncreas caracteristicamente não provoca sintomas até que o tumor tenha crescido. Por isso, no momento do diagnóstico e em 80 % dos casos, o tumor já criou metástases para além do órgão, atingindo os gânglios linfáticos vizinhos ou até o fígado e o pulmão.
Os primeiros sintomas característicos são dor e perda de peso. No momento do diagnóstico, 90 % dos doentes sentem dor abdominal (geralmente dor intensa na parte alta do abdómen, que irradia para as costas) e perda de pelo menos 10 % do seu peso ideal.
Cerca de 80 % destes cancros desenvolvem-se na cabeça do pâncreas (a parte mais próxima do duodeno e do canal biliar comum). Portanto, a icterícia é um sintoma precoce típico provocado pela obstrução do canal biliar comum. Nas pessoas com icterícia, a cor amarela afecta não só a pele como também o branco dos olhos (esclerótica) e outros tecidos. A icterícia é acompanhada de prurido generalizado.
Os tumores do corpo e da cauda do pâncreas (a parte do meio e a mais distante do duodeno) podem obstruir a veia que sai do baço, provocando como resultado uma tumefacção do baço e varizes (veias varicosas inflamadas, dilatadas e tortuosas) à volta do estômago e do esófago. Se estas veias chegarem a rebentar, pode produzir-se uma hemorragia grave, sobretudo do esófago.
Diagnóstico
O diagnóstico precoce é difícil. Quando se suspeita dum adenocarcinoma do pâncreas, as provas de diagnóstico mais usadas são as ecografias, a tomografia axial computadorizada (TAC) e a pancreatografia retrógrada endoscópica (um técnica de radiologia que mostra a estrutura do canal pancreático). Para confirmar o diagnóstico podem-se obter amostras do tecido pancreático para serem examinadas ao microscópio. A biopsia é obtida inserindo uma agulha através da pele, utilizando como guia uma TAC ou uma ecografia. Pode também ser obtida uma biopsia do fígado para ver se o cancro se propagou. Se o médico tiver uma forte suspeita de adenocarcinoma do pâncreas, mas os resultados das análises forem normais, pode-se explorar o pâncreas cirurgicamente.
Prognóstico e tratamento
O prognóstico é muito sombrio. Menos de 2 % das pessoas com um adenocarcinoma do pâncreas sobrevivem cinco anos depois do diagnóstico. A única esperança de cura é uma intervenção cirúrgica, que se realliza em doentes cujo cancro não se propagou. Extirpa-se só o pâncreas, ou então tanto este como o duodeno. Mesmo depois desta cirurgia, só 10 % dos pacientes sobrevivem cinco anos, qualquer que seja o tratamento posterior.
A dor moderada pode ser aliviada com aspirina ou paracetamol (acetaminofeno). A dor intensa na zona alta do abdómen pode ser aliviada inclinando-se para a frente, colocando a cabeça para baixo e dobrando os joelhos ou utilizando medicamentos como a codeína ou a morfina por via oral. Entre 70 % e 80 % dos doentes que sentem uma dor intensa podem aliviá-la com infiltrações nos nervos para bloquear as sensações dolorosas. Pode-se tratar a ausência de enzimas digestivos pancreáticos com preparações de enzimas por via oral. Se se desenvolver uma diabetes, pode ser necessário recorrer ao tratamento com insulina.
O cistoadenocarcinoma, um tipo raro de cancro pancreático, tem melhor prognóstico que o adenocarcinoma. Só 20 % destes cancros, em regra, se disseminaram no momento da intervenção cirúrgica. Se o cancro não se tiver disseminado e se for extirpado o pâncreas todo, há 65 % de possibilidades de sobreviver pelo menos 5 anos.
O insulinoma é um tipo raro de tumor pancreático que segrega insulina, uma hormona que faz diminuir os valores de glicose no sangue.
Só 10 % dos insulinomas se tornam cancerosos.
Sintomas
Os sintomas dum insulinoma devem-se aos baixos valores de glicose no sangue. Isto acontece quando a pessoa não come durante muitas horas, com maior frequência de manhã depois do jejum nocturno. Os sintomas, que podem ser parecidos com uma variedade de problemas psiquiátricos e nervosos, consistem em dor de cabeça, confusão, alterações da visão, fraqueza muscular, instabilidade e alterações marcadas pela personalidade. Os valores baixos de glicose podem mesmo conduzir a uma perda de consciência, convulsões e coma. Os sintomas, parecidos com os da ansiedade ou do pânico, são desfalecimentos, fraqueza, tremores, percepção dos batimentos do coração (palpitações), sudação, fome e nervosismo.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico dum insulinoma pode ser difícil. O doente mantém-se em jejum durante 24 horas, pelo menos, às vezes até 72, e é cuidadosamente controlado, em regra no hospital. Decorrido este tempo, os sintomas costumam manifestar-se e fazem-se análises ao sangue para medir os valores de glicose e de insulina. Os valores muito baixos de glicose e altos de insulina indicam a presença dum insulinoma. Em seguida, deve-se procurar a sua localização exacta no pâncreas. Podem-se fazer exames como a tomografia axial computadorizada (TAC) e a ecografia para localizar o tumor, mas às vezes é necessária uma exploração cirúrgica.
O tratamento dum insulinoma é a extirpação cirúrgica.
Um gastrinoma é um tumor pancreático que produz quantidades excessivas da hormona gastrina, a qual estimula o estômago a segregar ácido e enzimas, provocando úlceras pépticas.
A maioria das pessoas com esta afecção tem vários tumores agrupados no ou perto do pâncreas. Cerca de metade são cancerosos.
Às vezes, um gastrinoma surge no contexto duma perturbação hereditária (neoplasia endócrina múltipla), na qual os tumores são originados a partir das células de várias glândulas endócrinas, como as células pancreáticas produtoras de insulina.
Sintomas e diagnóstico
O excesso de gastrina segregada pelo gastrinoma provoca diversos sintomas que constituem a chamado síndroma de Zollinger-Ellison. A síndroma inclui dor abdominal entre moderada e intensa, provocada por úlceras pépticas no estômago, no duodeno ou em qualquer zona do intestino. Pode ocorrer perfuração, hemorragia e obstrução intestinal, que podem ser mortais. No entanto, em mais de metade das pessoas com gastrinoma, os sintomas não são piores que os provocados por uma úlcera péptica de origem diferente. A diarreia é o primeiro sintoma em 35 % a 40 % dos casos.
O médico suspeita desta doença quando a pessoa apresenta úlceras pépticas frequentes ou múltiplas que não respondem aos tratamentos habituais. Então, são pedidas análises ao sangue para detectar valores anormalmente elevados de gastrina. Também as amostras de suco gástrico (obtidas mediante uma sonda colocada pelo nariz até ao estômago) indicam quantidades muito elevadas de ácido. A localização dos tumores pode ser difícil porque normalmente são pequenos e há vários. Os médicos utilizam diversas técnicas de imagem, como a tomografia axial computadorizada (TAC), a ecografia e a arteriografia.
Tratamento
Cerca de 20 % das pessoas com um gastrinoma que não tenham uma neoplasia endócrina múltipla podem curar-se com cirurgia. Para estes doentes, antes da cirurgia, e para outros que não se submetam a ela, os medicamentos antiulcerosos, como a cimetidina, a ranitidina e a famotidina, podem aliviar a sintomatologia. Se tal não for conseguido, o omeprazol (que reduz a secreção ácida por outros meios) pode ser eficaz. Se estes tratamentos falharem, pode ser necessária uma intervenção para extirpar todo o estômago (gastrectomia total). Esta operação não elimina o tumor, mas a gastrina já não pode afectar o estômago e os sintomas desaparecem. Se o estômago for extirpado, devem ser administrados suplementos diários de vitamina B12 e de cálcio.
Se os tumores malignos se tiverem disseminado a outras partes do organismo, os medicamentos anticancerosos (quimioterapia) podem ajudar a reduzir o número de células tumorais e os valores sanguíneos de gastrina. No entanto, este tratamento não cura o cancro, que é finalmente mortal.
O glucaginoma é um tumor que produz a hormona glucagina, a qual aumenta os valores da glicose no sangue e produz uma erupção cutânea característica.
Cerca de 80 % destes tumores são cancerosos. No entanto, são de crescimento lento e muitas pessoas sobrevivem 15 anos ou mais depois do diagnóstico. A idade média de aparecimento dos sintomas é 50 anos. Aproximadamente 80 % das pessoas com glucaginoma são mulheres.
Sintomas e diagnóstico
Os valores elevados de glucagina provocam os sintomas duma diabetes mellitus. Muitas vezes, a pessoa perde peso. As análises ao sangue podem detectar anemia e baixos valores de lípidos, mas em 90 % dos casos as características típicas são uma erupção cutânea escamativa de cor castanho-avermelhada (eritema necrolítico migratório), que começa na virilha e se propaga pelas nádegas, antebraços e pernas; na língua a lesão é brilhante e de cor laranja-avermelhada. Também podem aparecer gretas nas comissuras da boca.
O diagnóstico é estabelecido detectando valores altos de glucagina no sangue e localizando posteriormente o tumor por angiografia e mediante uma exploração cirúrgica abdominal.
Tratamento
No melhor dos casos, extirpa-se o tumor cirurgicamente e todos os sintomas desaparecem. No entanto, se não se puder extrair o tumor ou se este se tiver propagado, os medicamentos anticancerosos podem reduzir os valores de glucagina e diminuir os sintomas. O fármaco octreótido também reduz as concentrações de glucagina, pode fazer desaparecer a erupção e também pode restabelecer o apetite, facilitando o aumento de peso. Contudo, o octreótido pode elevar ainda mais os valores de glicose no sangue. A erupção cutânea é tratada com unguentos de zinco. Por vezes, é tratada com aminoácidos ou ácidos gordos endovenosos.
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