Não raro, nos deparamos com pacientes que nos referem tremores palpebrais. Seria esta queixa apenas um sinal de estresse, causada por fadiga muscular, ou haveriam outros distúrbios subjacentes a serem investigados? Abaixo estão relacionadas algumas das principais causas dos movimentos palpebrais involuntários, bem como comentários a respeito da etiologia, do diagnóstico e tratamento dessas alterações.
I – BLEFAROESPASMO
Definição
Qualquer anormalidade do ato de piscar resultante de qualquer causa, variando de olho seco a síndromes distônicas
Epidemiologia
Um estudo em duas grandes séries, revelou uma prevalência de 5:100.000 e acometimento de 2 mulheres : 1 homem. O início dos sintomas se deu após os 50 anos de idade. [ Jancovic e Orman, 1984; Grandas et al, 1988 ]
Etiologia
É pensado estar associado a um distúrbio nos gânglios basais, os quais têm o controle sobre os movimentos coordenados. Na maioria das pessoas se desenvolve espontaneamente. Entretanto, tem sido observado que os sinais e sintomas de olho seco freqüentemente precedem ou são concomitantes ao blefaroespasmo. A causa mais comum de blefaroespasmo é a distonia idiopática de início na vida adulta, que consiste de movimentos distônicos persistentes, envolvendo principalmente a face, mandíbula, pescoço, tronco e braços.
Apesar de a maioria dos pacientes inicialmente consultar oftalmologistas, as desordens oculares, possivelmente mediadas pelo reflexo trigêmino-palpebral (blefarite, conjuntivite, ceratite, olho seco, uveíte) ou pelo reflexo óptico-palpebral (albinismo, maculopatias), raramente causam blefaroespasmo . [Salorio and Conte, 1988].
Uma variedade de lesões do tronco cerebral e dos gânglios da base, como por exemplo: AVC, esclerose múltipla, hidrocefalia têm sido associados com blefaroespasmo [Jankovic, 1986 ; Hallett and Daroff, 1996]. Esse distúrbio tem sido documentado após paralisia de Bell, em decorrência da regeneração aberrante [Chuke et al, 1996; Baker et al, 1997].
Ocasionalmente, pode ser uma doença familial ou fazer parte da S. de Meige (Distonia Crânio-cervical Idiopática), distúrbio em que o blefaroespasmo é acompanhado por abertura e contração da boca , podendo estar associado a doenças do SNC como doença de Wilson e doença de Parkinson.
Evolução
Em geral, inicia com um piscar excessivo desencadeado por fatores precipitantes como exposição à luminosidade intensa, fadiga e tensão emocional. Quando a condição progride, ocorre freqüentemente durante o dia. Os espasmos desaparecem durante o sono e tardam a aparecer após uma boa noite de sono. Sua freqüência reduz durante a concentração em uma tarefa específica (cantar, falar, puxar a pálpebra superior, ler, beliscar o pescoço). Tardiamente, os espasmos podem se intensificar de uma tal forma que, o paciente pode se tornar além de funcionalmente cego (mais de 15%), psicologicamente abalado, vindo a apresentar sintomas psiquiátricos. Entretanto, formas psicogênicas de blefaroespasmo são extremamente raras. [Scheidt et al, 1996]
Geralmente a piora dos sintomas ocorre dentro dos 5 primeiros anos. É uma desordem de longa duração. Apenas 3% dos pacientes de 2 grandes estudos apresentaram remissão espontânea prolongada. [Grandas et al, 1988; Jankovic and Orman, 1984; Madrileno et al, 1996].
Diagnóstico Diferencial
1. Blefarite;
2. Espasmo hemifacial: condição que envolve vários músculos de um dos lados da face, causada por irritação do nervo facial. As contrações musculares são mais rápidas e transitórias que aquelas do blefaroespasmo e o acometimento é quase sempre unilateral;
3. Tétano: a toxina tetânica provoca hiperatividade dos neurônios motores, causando fechamento forçado das pálpebras;
4. Doença de Whipple: além dos sintomas intestinais, apresenta oftalmoparesia supranuclear e contrações rítmicas das pálpebras, face e boca sincronicamente às oscilações convergentes dos olhos.
Diagnóstico
Avaliação oftalmológica cuidadosa. Não há necessidade de estudo de neuroimagem, com exceção dos casos em que se suspeita de blefaroespasmo secundário, relacionado a AVC, esclerose múltipla ou outros.
Tratamento
1. Injeções de Toxina Botulínica
A toxina botulínica bloqueia os impulsos nervosos nas terminações nervosas dos músculos, ligando-se às vesículas de acetilcolina e prevenindo sua exocitose. Para o tratamento do blefaroespasmo, são injetadas pequenas doses de toxina botulínica em diversos locais da musculatura periorbital ( pálpebras, supercílios e musculatura abaixo da pálpebra inferior. Seus efeitos podem ser percebidos em 1 a 14 dias e duram em média 3 a 4 meses. Estudos baseados em acompanhamento a longo prazo mostraram que o método é o mais efetivo e seguro, havendo resolução quase completa em mais de 90% dos casos.
2. Terapia Médica
Diversas medicações como Valium, Artane (triexifenidila), Klonapin (clonazepam), Lioresal (baclofeno), Tegretol (carbamazepina) e Parlodel (bromocriptina) são utilizadas, sob a supervisão do neurologista, no tratamento desta condição, porém seus efeitos são imprevisíveis e de curta duração.
3. Cirurgia
São candidatos à cirurgia, aqueles pacientes que não toleraram medicações ou não responderam à toxina botulínica. Miectomia de alguns ou de todos os músculos responsáveis pelo fechamento palpebral tem sido o tratamento cirúrgico mais efetivo para o blefaroespasmo, reduzindo a incapacidade visual em 75 a 80% dos casos.
Fonte: Dra. Anna Paula Albuquerque
otimo artigo.
ResponderExcluirmais goataria de saber qual a causa. e novos tratamentos.
abrigado
CAUSA. E NOVOS TRATAMENTOS DO BLEFAROESPASMO.
ResponderExcluirVocê sabia que o “piscar de olhos” é fundamental para a nossa saúde? Porém, quando esse simples mecanismo se torna extremamente repetitivo e anormal, pode se caracterizar em uma doença chamada de blefaroespasmo.
Normalmente, o problema começa discretamente e vai se intensificando aos poucos. Os músculos orbiculares acabam provocando contrações involuntárias da pálpebra e a pessoa acaba piscando sem parar, a ponto de às vezes nem enxergar direito, o que pode acarretar em uma cegueira funcional, incapacitando aquela pessoa de exercer simples atividades do dia-a-dia, como cozinhar, escrever, ler e dirigir.
Os especialistas acreditam que o problema seja causado por uma anormalidade no funcionamento dos gânglios basais, que participam do controle dos movimentos das pálpebras. Porém, existem outros fatores que ajudam a desenvolver a doença, como: stress, traumas emocionais e o consumo excessivo da cafeína.
Ainda não foi diagnosticado um tratamento para a cura da doença, mas ela pode ser controlada, transitoriamente, com o famoso botox. Para um parecer minucioso é necessário procurar um oftalmologista.
Saiba mais sobre a doença no site da Associação Brasileira dos Portadores de Distonias (ABPD).
Por Thais Cortez.