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Mesmo sem grande compreensão de como ela funciona, a hipnose tem sido usada em medicina desde os anos 50 para tratar dores e, mais recentemente, ansiedade, depressão, trauma, síndrome de intestino irritável e distúrbios da alimentação.
Mas ainda há discordâncias sobre o que é precisamente um estado hipnótico ou se ele é algo mais que um esforço para agradar ao hipnotizador ou uma forma natural de concentração extrema em que as pessoas ficam absortas em seus pensamentos e ignoram o que as cerca.
Décadas de pesquisa mostraram que de 10% a 15% dos adultos são altamente hipnotizáveis, diz o dr. David Spiegel, psiquiatra da Universidade de Stanford que estuda usos clínicos da hipnose.
Até os 12 anos, porém, antes de os mecanismos top-down (de cima para baixo, ou seja, partindo do conhecimento e não da percepção) amadurecerem, de 80% a 85% das crianças são altamente hipnotizáveis.
Um entre cada cinco adultos é absolutamente resistente à hipnose, diz Spiegel.
Teste de Stroop
Em alguns trabalhos mais recentes, o dr. Amir Raz, professor-assistente de neurociência clínica na Universidade de Columbia, resolveu estudar pessoas altamente hipnotizáveis com a ajuda de um teste psicológico padrão que esquadrinha conflitos no cérebro.
A investigação, chamada teste de Stroop, apresenta palavras em maiúsculas vermelhas, azuis, verdes e amarelas.
O sujeito deve apertar um botão identificando a cor das letras. A dificuldade é que às vezes uma palavra como vermelho está colorida de verde ou a palavra amarelo, de azul.
Para uma pessoa alfabetizada a leitura está tão arraigada que ela invariavelmente leva um pouco mais de tempo para vencer a leitura automática de uma palavra como vermelho e apertar um botão que diz verde. Isso é chamado de efeito Stroop.
Dezesseis pessoas, oito altamente hipnotizáveis e oito resistentes, passaram pelo laboratório de Raz após ter sido secretamente testadas sobre a sua capacidade de ser hipnotizadas.
O objetivo do estudo, lhes disseram, era investigar os efeitos da sugestão no desempenho cognitivo.
Depois que cada pessoa foi submetida a uma indução hipnótica, Raz disse: "Muito em breve vocês estarão jogando um videogame de dentro de um scanner de cérebro. Toda vez que ouvirem a minha voz pelo comunicador, imediatamente perceberão que símbolos sem sentido vão aparecer no meio da tela. Eles parecerão caracteres de uma língua estrangeira que vocês não conhecem e vocês não tentarão atribuir nenhum significado a eles. Essas coisas ininteligíveis estarão impressas em uma de quatro cores: vermelha, azul, verde ou amarela. Embora vocês vão atentar só às cores, verão todos os signos misturados com nitidez. Seu trabalho será premir com rapidez e precisão a tecla que corresponde à cor mostrada. Podem jogar sem esforço. Assim que o ruído do escaneamento parar, vocês relaxarão e voltarão à sua condição de leitura normal."
Raz encerrou então a sessão de hipnose, deixando em cada um o que chamam de sugestão pós-hipnótica, uma instrução que conduz a uma ação depois da hipnose.
Comparação
Dias depois, os sujeitos entraram no scanner cerebral. Nos altamente hipnotizáveis, quando as instruções de Raz chegaram pelo comunicador, o efeito Stroop foi obliterado, diz ele.
Os sujeitos viram palavras cotidianas como indecifráveis e nomearam as cores instantaneamente. Mas nos resistentes o efeito Stroop prevaleceu, tornando-os muito mais lentos na nomeação das cores.
Quando o escaneamento cerebral dos grupos foi comparado, apareceu um padrão distinto. Entre os hipnotizáveis, a área visual do cérebro que em geral decodifica palavras escritas não pareceu ativa. E uma região na parte frontal que geralmente detecta conflitos estava igualmente desativada.
Os processos top-down prevaleceram sobre os circuitos cerebrais dedicados à leitura e a detecção de conflitos, diz Raz, embora ele não saiba exatamente como isso aconteceu.
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